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quinta-feira, 8 de novembro de 2012

Meu grande amigo que se foi...

Meu blog é sobre a Bélgica, mas hoje ele dá espaço para que eu possa relembrar o meu melhor amigo do curso técnico: o Diogo de Oliveira Martins Ferreira. Sempre que ele ia falar o nome ele declamava com todo orgulho.

O tempo passa rápido? Ele voa eu diria... 10 anos sem meu amigo, 10 anos sem seu sorriso, sem suas piadas, sem suas músicas... ficou somente a doce lembrança de uma amizade que me marcou pra vida toda.

Imagine um cara alegre e com um sorriso que contagiava todo mundo, esse era o Diogo!
Douglas, eu e o Diogo
Diogo ao fundo sempre sorridente!
Ele era meu amigão mesmo, chegamos até a estagiar na mesma empresa no último ano do curso.

Eu fazia curso técnico e óbvio o sexo masculino na turma era predominante. Logicamente os meus amigos seriam homens. Mas aí surgia um problema... meu pai nunca gostava de nenhum amigo meu... e mesmo assim, eu os chamava para estudarmos em casa. Nos reuníamos em pequenos grupos (conhecidos como panelinhas) e estudávamos até cansar. O meu pai torcia o nariz pra todos os meus amigos menos pro Diogo... ele adorava o Diogo. E é simples entender. Diogo sabia entender a simplicidade do meu pai e adorava ficar horas conversando com ele e andando atrás dele pelo sítio. Diogo adorava roça e com isso conquistou o duro coração do meu pai.

Diogo era de casa. Chegava e já ia pra cozinha cumprimentar minha mãe: "Oh Dona Maria tem um café quentinho aí pra gente?" Tão de casa que já pegava a garrafa de café, um copo e levava pra mesa de estudos... era uma figuraça! Quando acabava o café ele levava e avisava minha mãe que tinha acabado... era um jeito de pedir outra garrafa... Ele dizia que lá era muito frio e o café o ajudava a ficar quentinho.

Era realmente muito bom os estudos em grupo. Dávamos muita risada mas no final todo mundo ia bem na prova. Douglas, Elcinho, André e Diogo, esses eram mais os fiéis aos grupos.
Douglas, Diogo, Eu, André e Elcinho
A comida da mãe, ah ele pirava. Comida no fogão a lenha com temperinho que só minha mãe sabia fazer era com ele mesmo. Se esbaldava! E a mãe ficava toda contente.

Melhor que isso? Ele debruçado na porteira gritando: "Buuuuuurro, oh buuuuuurro" jurando que o burro viria ao encontro dele... ele ficava um bom tempo lá até eu estressar com ele e fazê-lo voltar a estudar. Minha mãe? Ah, ela rachava de rir...

As vezes ele resolvia ficar andando atrás do meu pai... conversando e meu pai mostrando tudo quanto é tranqueira e contando suas estórias... ficavam até eu estressar com os dois! Oras bolas, afinal estávamos ali pra estudar!!! Eita tempinho maravilhoso!

Ele era queridíssimo por toda minha família. E, quem o conheceu, sabe que era muito fácil gostar dele. Carismático que só!

Mas, nem tudo são rosas... ele teve momentos de muita tensão durante o curso. Começou a namorar uma colega nossa e ela engravidou... O mundo dele virou de ponta-cabeça. Tentamos dar a maior força possível pra ele, mas muita coisa ele tinha que enfrentar sozinho. Mas ele foi muito homem! Dava orgulho! Levou sua namorada pra morar com ele e ficaram juntos desde então. Formavam um casal lindo. Claro que brigas haviam, mas qual casal não briga??? Nessa época o grupo de estudo migrou pra sua casa, ele, naquele momento, era um homem de família!

Um tempo depois Maria Eduarda nasceu! Como era linda meu Deus!!! Fofíssima!!! Cuti-cuti!!! A recém formada família chegou a visitar a minha casa para que meus pais conhecessem a nova princesinha, bom demais! O mais legal era como o Diogo a carregava... era pra lá de estranho, mas segundo ele, o médico disse que era bom... até hoje tenho minhas dúvidas...

Eita tempo, eita amizades maravilhosas!

Mas aí o angú resolveu azedar de vez... uma bela manhã (até então), estava eu no meu trabalho e recebo uma ligação do pessoal da fábrica onde eu havia feito estágio junto com o Diogo, fiquei super contente com a ligação e desandei a falar... no meio a minha euforia hoje eu vejo que os caras não tiveram coragem de me contar o que já sabiam... conversaram um pouco e desligaram...

Passados alguns minutos toca o telefone novamente... era o pessoal da fábrica. Óbvio que aí já me preocupei, não era normal! Mas a gente nunca pensa no pior, achei que o Diogo tinha caído da bicicleta de novo... mas não... somente disseram: "ouvimos na rádio que teve um grave acidente de madrugada com alguns rapazes e um deles era de Cataguases e o Diogo não veio trabalhar... não sabemos se é o Diogo, tem que confirmar...". Coitados, foi uma boa tentativa de me deixar calma, mas quantas pessoas de Cataguases morando em Itajubá pra estudar eles achavam que tinha??? É..., a partir daí, meu mundo realmente caiu...

Entrei num pânico completo e absoluto. Liguei desesperadamente para a casa de um dos nossos colegas e eis que sua mãe atende chorando... pronto, aquilo acabou mais ainda comigo! Mas até então ainda achei que o Diogo pudesse estar vivo, era difícil demais ter que aceitar o contrário. E ela, numa voz trêmula, disse que ele tinha morrido. Doeu viu. Doeu mais um pouco e ainda dói...

Uma amiga me pegou no trabalho e fomos para o hospital para esperar liberarem o corpo. A família do Diogo carinhosamente deixou que seu corpo fosse velado durante um tempinho em Itajubá. Chorei viu. Demais da conta. Não entrava na minha cabeça. Aceitar a morte de um jovem não é fácil. Ainda mais quando ele é seu melhor amigo...

Ele morreu menos de um mês para o término do ano letivo e para o término do curso. Nem preciso dizer que os últimos dias de aula foram os piores da vida de qualquer um da turma. Principalmente para os mais chegados. Levamos aos trancos e barrancos...

Na formatura, fizemos uma singela homenagem ao nosso amigo. Tive que brigar pra que pudéssemos fazê-la. Mas isso foi fácil pra mim. Sempre fui um pouco brava... e naquele momento meus amigos, nada nem ninguém ia nos impedir de fazer a homenagem, mas não ia mesmo!

Ao mesmo tempo que eu queria muito ler a mensagem eu entrava em pânico porque eu tinha certeza que não conseguiria. Era tudo muito recente e ainda doía demais, a ferida estava abertíssima e ainda sangrava...

Tentei me preparar mentalmente o máximo possível, li a mensagem 4493275875932858 de vezes pra chorar todas essas vezes e na hora ficar firme e forte.

É... valeram essas tentativas. No dia da colação tudo corria bem. Entramos, sentamos e até então tudo ia bem. Eu suava feito uma porca mas até então minha mente trabalhava freneticamente pra eu ficar firme e forte. Eu até estava bem, mas num certo momento olhei para a frente e dei de cara com a Maria Tereza olhando para nós chorando e com uma feição de desmoronar o mais duro coração. O meu que já é mole demais... se lascou. Daí pra frente só olhava para o chão ou para o lado oposto. Confesso que não lembro de nenhum discurso... eu havia entrado num universo paralelo.

E eis que chega a vez da homenagem... acho que nunca tremi tanto na minha vida. Quase não conseguia respirar, o meu coração realmente estava na garganta, palpitando como nunca na vida. Foram os minutos mais demorados da minha vida, precisei respirar muiiiiiito fundo. Consegui ler. Mas quando terminei eu debulhei em lágrimas e recebi o abraço mais carinhoso do mundo do pai do meu melhor amigo. Foi muito difícil pra mim, mas era o mínimo do mínimo que podíamos fazer. Hoje eu olho a mensagem e a acho curta, mas como demorou pra eu ler naquele dia, cada palavra era uma eternidade e uma respirada bem funda para que eu conseguisse proferir a próxima até que então o texto se findasse...:


"Final de ano. Final de mais uma etapa. Expectativas, sonhos, alegrias, vitórias, frustrações, tristezas... Um misto de alegrias e tristezas, na verdade. O curso concluído após tanto esforço, tanta luta, dificuldades várias, cansaço, é motivo de satisfação e gratidão a Deus que nos possibilitou chegar a um final feliz. Há, no entanto, uma nota distante em meio a sinfonia... Uma ausência que traz dor, saudade e tristeza... A ausência de uma presença querida: o colega e amigo que não está aqui agora para celebrar conosco a vitória: Diogo. Sentimos profundamente sua ausência. Foram quase quatro anos de convivência. Tempo suficiente para criarmos uma amizade sólida, profunda, inesquecível.
Há coisas difíceis de serem compreendidas, de serem aceitas. No entanto, sabemos que neste mundo estamos sujeitos a tristezas, desapontamentos, frustrações, dor. O importante em tudo é reagirmos corretamente às situações, mesmo que não consigamos compreender tudo o que nos acontece. Assim conseguiremos superar as dificuldades e lutas que nos sobrevêm. 
Diogo, agradecemos por todos os momentos que passamos juntos, aprendemos muito com você. Seu sorriso expressivo e seu carisma sempre nos alegraram e nos motivaram a seguir em frente. Você sempre viverá em nossos corações."

Sim amigo, você sempre viverá em nossos corações!

Vida que se seguiu para todos. Perdi contato com a Maria Tereza por um longo tempo. Nos achamos novamente. Nos perdemos novamente. E agora nos achamos novamente. Achei também o pai do Diogo, uma tia e sua amada filha Maria Eduarda que tá liiiiiiiiinnnnnda demais da conta! Fico pensando no dia em que conseguirei encontrar a Maria Eduarda pessoalmente. Sei que vou abraçá-la e chorar feito uma criança e sei que ela não vai entender nada...
Abaixo duas fotos das que eu recebi da Maria Tereza quando nos achamos novamente. Nem preciso dizer o quanto me emocionei ao ver essas fotos...
Maria Eduarda! Linda!
Maria Eduarda! Mais linda ainda!

















E claro, vou querer outro abraço carinhoso do pai do Diogo... e chorar mais um pouco... por que não?

Louvo a Deus por ter tido a oportunidade de ter conhecido o Diogo e convivido com ele. Uma amizade realmente inesquecível. Completamente especial!

10 anos hein amigo...e as vezes ainda choro como se tudo tivesse acontecido ontem...

Saudade sempre!