Neste post de hoje resolvi explanar sobre meu primeiro contato e minha primeira visita a um médico. O primeiro contato foi traumatizante e a primeira visita estranha, bem estranha...
No meu curso de inclusão social fiz várias amizades e uma das meninas me indicou um ginecologista. Como não conheço nenhum aqui esse era o caminho menos difícil de encontrar um bom gineco.
Após estar com o telefone em mãos e também meu cartão de seguro saúde resolvi ligar para o médico. Ah sim, é bom saber que queria ir ao gineco somente para pegar uma receita de anticoncepcional porque o que eu tomava no Brasil não existe aqui. Era meados de julho e liguei feliz e contente:
"Eu: Alô.
Gineco: Alô.
Eu: Gostaria de marcar uma consulta.
Gineco: É aborto?
Eu: (Cara de chuchu, sentimento de espanto e em estado de choque). Respirei fundo e disse com a voz trêmula: não... só quero trocar minha receita de anticoncepcional...
Gineco: Ah sim, estou de férias e só estou atendendo aborto/emergência... volto dia 22 de agosto, você pode me ligar novamente?
Eu: (ainda assustada) Sim, sim, eu retorno em agosto... obrigada.
Gineco: Por nada, aguardo sua ligação."
Sim gente, eu fiquei muito assustada. E pensei: que merda de médico é esse que ela me indicou??? Aborto??? WTF???
Depois de muito pensar lembrei que o aborto aqui é legalizado e que também ocorrem os abortos espontâneos... mas mesmo assim me assustei um tanto bom. Não é todo dia que você liga pro gineco e ele pergunta de cara se é aborto... pô... vim de um país que isso não é normal...
Passado o susto e não querendo ir pra outro médico porque, se esse que ela indicou já falou desse jeito imagine eu tentando a sorte em algum outro...??!!!
Liguei novamente na segunda agora, dia 27, ele me atendeu (não perguntou sobre aborto, ufa!) e disse que eu poderia ir qualquer dia já que era somente para pegar outra receita.
Resolvi ir ontem. Acordei cedo, tomei um banhão, tomei café e peguei o caminho da roça. Sim, pra ajudar ele atende em outra cidade. É do lado de onde moro (tipo Itajubá - Maria da Fé), bem pertinho mesmo.
Cheguei e me deparei com uma casa normal com um adesivo no vidro com nome, horários e telefone do médico, nada de placas gigantes. Toquei a campainha e fiquei lá... por um bom tempo... aí como boa brasileira dei uma espiadinha pelo vidro e vi que tinha gente lá dentro, foi então que decidi tentar empurrar a porta. Percebi que a ideia era exatamente essa...
Tinha uma sala de espera com algumas pessoas e um banquinho de madeira no hall de entrada (igual aqueles que tem na casa dos nossos avós, ou dos pais no meu caso) no qual eu resolvi me acomodar.
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Pra quem nunca viu e pra quem está com preguiça de imaginar. |
Secretária? Pra que? Aqui tem disso não. Continuei sentada completamente perdida...
Finalmente sai alguém da sala com o escrito "dokter" na porta. Um casal e um cara mais desesperado que político safado querendo ganhar eleição...
Esse cara desesperado era o médico, ele me viu perguntou quem eu era e pediu para que eu aguardasse na sala de espera porque era mais confortável... sim, ele disse confortável, e não estava errado, uma cadeira de plástico com encosto é mais confortável que um banquinho de madeira sem encosto. Tudo depende do parâmetro de comparação!
Na sala ainda restava um velhinho, fofíssimo por sinal! Sempre que podia olhava pra ele com uma vontade enorme de perguntar: "O senhor gostaria de ser meu avô postiço*?". Mas não perguntei, mas confesso que me arrependi...
Após uma hora de espera (eu não tinha marcado horário) chega a minha vez. Entro na sala dele suando frio... por dois motivos: um porque era uma experiência nova e dois porque meu inglês já não é dos melhores e eu precisaria falar termos estranhos com ele...
Por fim, entramos num acordo e eu resolvi gastar o meu portunhol com ele. Sim, porque ele fala algumas línguas, como todo mundo aqui.
Mostrei a receita do Brasil, ele olhou, olhou de novo e olhou de novo e disse que poderia aplicar em mim e já foi indo pra outra sala, pegando o remédio e voltando e sentando e pedindo meu cartão da Mutualiteit (similar a um plano de saúde). Sim, minha gente, por dentro eu estava mais assustada que não sei o que pensando: "calma aí tio, fico sete meses sem tomar nada, eu mal chego aqui e o senhor já quer me furar, "vamo" devagar com a dor..."
Depois ele disse: "se você quiser claro..." Hahahahahaha. Por dentro eu trinquei de rir. Cara desesperado e doido.
Aí ele aplicou o trem* em mim e disse para voltar dali a 3 meses e se eu tivesse qualquer problema era pra ligar.
Sentou novamente na mesa e começou a preencher dois papéis: um pra ele mandar pro "Convênio" e outro para eu levar ao convênio e ser reembolsada. Sim, isso mesmo, reembolsada. Aqui você vai ao médico e mesmo tendo o plano de saúde você paga a consulta. Como o meu teve o anticoncepcional e a consulta eu achei que ia ficar uma fortuna, porque pra variar eu não tinha noção.
De repente, ele me mostra o papel, aponta o valor e diz: este é o total. Olhei espantada e paguei os 18 euros...
Gente, 18 euros por uma consulta e um anticoncepcional (trimestral) e ainda vou ter reembolso...
Após pagar ele me agradeceu e disse que se eu quisesse poderia voltar dali a 3 meses para uma nova aplicação. No final, não foi traumático como minha cabecinha havia maquinado e acabei gostando do médico.
Sobre a secretária, ele não tem mesmo. A sala de atendimento dele é gigante. Tem a mesa com computador, formulários, receituários, impressora, telefone (ele mesmo atende e marca). Também achei interessante porque ele tem um aparelho de fazer ultrassonografia em sua sala, ou seja, ele mesmo faz. Fora outras coisas que ele tinha lá que não faço a mínima ideia do que seja.
Bom, é isso pessoal. Acho que o próximo médico que eu precisar ir vou estar mais tranquila.
Nesse post tem algo bem interessante para os leitores mais espertos. Quem perceber pergunte aí que eu explico.
*postiço = por consideração
*trem = qualquer coisa menos o trem (aquele que anda em trilhos)